segunda-feira, 21 de abril de 2014

Crônicas do Cotidiano - A tela encantada

Por Ivaney
Em meados dos anos 60, em nossa cidade foi inaugurado o primeiro cinema, localizado na Travessa Nabor Lima Rios, Centro. As maquinas projetores dos filmes, foram compradas por Otacílio, um grande artista da construção civil daquela época.
Os filmes eram recebidos em rolos protegidos por caixas de metal, vinham juntos também os grandes cartazes que traziam fotos das cenas de cada filme, que eram exibidos em tabuletas colocadas nas portas dos bares e em pontos estratégicos a exemplo da feira livre. No salão da exibição, era esticada uma grande tela feita de pano branco, sobre uma parede reta onde era projetada a filmagem.
Lembro-me do primeiro filme que assistir, foi A Onça Vencedora com o galã italiano da época Giuliano Gemma e Randolf Scotch. As seções eram as sextas-feiras, aos sábados e domingos não tinham seções, pois sempre tinha festa na cidade ou futebol que vinham de outras cidades, após o jogo o pessoal pegava festa ou boate no Clube SBC, por esse motivo não tinha exibição.
O salão não tinha cadeira, as pessoas traziam cadeiras, tamboretes e bancos na cabeça, outras traziam esteiras de palha. Os filmes eram divididos em até três rolos, quando acabava a projeção de cada rolo, acendia as luzes as pessoas levantavam-se para esticar as pernas, fumar, ir ao banheiro, comprar castanha e amendoim torrado dos meninos que vendiam em frasqueiras, também aproveitava o momento para tirar sarro e colocar apelide nos outros, quando ia recomeçar a projeção dava-se um sinal nas luzes, acendia e apagava várias vezes que era para as pessoas acomodarem-se em seus lugares e fazerem silêncio.   
Quando terminava o filme só tinha uma porta para sair que era a mesma da entrada, todo mundo queria sair ao mesmo tempo com o objeto na cabeça que tinha levado para sentar, aí você imagina a confusão que formava.
Um morador que não vou falar o nome, foi assistir a um filme pela primeira vez e irritou-se quando deparou com uma cena em que um ator imberturou uma linda atriz e ele pulou em cima da tela para separar dizendo, “solta a mulher rapaz”. Nesse momento foi uma grande gozação.
Após esse cinema houve outros na cidade, existia um rapaz de Serrolândia chamado Anselmo que trazia os filmes para exibir em salões alugados, foi montado o Cine Aramuí na Praça Edvaldo Valoís, tivemos também um cinema localizado na Praça Soares da Cunha, que pertencia a Pedro de Tibúrcio, outro do Senhor Edvaldo Rios e várias pessoas que tinha cinema ambulante, onde era exibido os filmes em povoados e cidades vizinhas.

Os rapazes daquela época levavam as garotas para namorar no escurinho do cinema. Bons tempos!  


Nilton Ivanei Gomes dos Santos, nascido em 1952 em Salvador, mas criado em Várzea do Poço – Bahia. 
Historiador que vivencia os movimentos culturais, esportivos e políticos. 

      

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