sábado, 25 de outubro de 2014

Após perder família e ficar sem andar, baiano de Irecê lança livro sobre uso do cinto

Quase seis anos após a tragédia que matou mãe e irmã, o empresário Rafael Medeiros, 30, natural de Irecê, cidade a 530 quilômetros de Salvador, tem viajado por todo interior da Bahia, além da capital, ministrando palestras sobre a história de vida e a importância do uso do cinto de segurança. Em setembro, Medeiros lançou a produção independente "Use o Cinto de Segurança". Na publicação, ele conta como superou o acidente de carro que o deixou paraplégico, em janeiro de 2008. "Eu sempre pensei em falar sobre a importância do cinto porque o esse foi o motivo da minha lesão", relata Rafael. No último dia 2 de outubro, o empresário sofreu outro acidente de carro, mas dessa vez o cinto de segurança evitou outra tragédia. "Passei por uma depressão na pista, a caminho de Irecê (BA), e o pneu estourou e o carro capotou, igual ao outro acidente. Mas dessa vez apenas o meu pulso precisou ser imobilizado", contou. A vida do baiano é marcada por tragédias familiares. Em 2001, Rafael conta que o pai foi assassinado pela então companheira em praça pública. Após a morte do pai, Rafael foi morar em Salvador e, em uma das idas para a cidade natal, sofreu o acidente em que  mãe, irmã e primo do empresário morreram.Na época, Rafael cursava o 6º semestre da Universidade Estadual de Feira de Santana(Uefs) e, no momento em que se deu conta das perdas familiares e que não poderia mais andar, resolveu parar de estudar e chegou a pensar em suicídio. "Eu achava que minha vida terminado. Tinha perdido minha mãe, irmã, deixado de andar e não voltei para a faculdade. A única coisa que pensava era em cometer suicídio", relembra.
Superação: Rafael superou as dificuldades com a ajuda de uma tia e da ex-namorada que, para ele, foram responsáveis por incentiva-lo a voltar a estudar e se reerguer. Depois de quase dois anos do acidente, ele concluiu a faculdade de enfermagem e passou em um concurso da prefeitura de Irecê para o Programa Saúde da Família (PSF). Porém, apesar da conquista, ele resolveu estudar Direito em Feira de Santana, a 100 quilômetros de Salvador, onde está cursando o 6º semestre da graduação. Ao mudar de cidade, Rafael foi convidado por um hospital local para ser auditor de saúde. No ano passado, o baiano abriu uma empresa voltada para adaptação de carros para pessoas com deficiência, entre outras especialidades. "Tem cadeiras de rodas, muletas, andadores, tudo voltado para acessibilidade", disse. O empresário relata que, apesar das limitações, ele faz de tudo para levar uma vida normal. "Não é fácil. Eu moro sozinho, viajo sozinho, coloco a cadeira no carro, passo o cinto de segurança, esse ano até de paraquedas eu fui saltar na Praia do Forte [litoral norte da Bahia]. Nas horas vagas eu também jogo basquete. As dificuldades são grandes. Não é fácil viver como cadeirante", revela.
Segundo Rafael,  ainda existe muito preconceito e a falta de acessibilidade dificulta a vida dos portadores de deficiência motora. "Tudo para um cadeirante é mais caro. A maioria depende de outras pessoas, de transporte. Precisamos ter melhores políticas de inclusão", relata. Rafael Medeiros está de mudança. Recentemente foi chamado para assumir a vaga conquistada em um concurso da prefeitura de Salvador, que fez em 2011. Ele alerta que, entre os objetivos de tornar pública a história pessoal, está a esperança de tentar mostrar que mesmo com todas as dificuldades, os sonhos não podem ser deixados para trás. Atualmente ele ministra dez palestras por semana em diferentes cidades da Bahia e, em novembro, irá participar da Feira do Livro em Alagoas. Toda a história de Rafael é contada por ele mesmo no livro "Use o Cinto de Segurança", uma produção independente publicada pela editora Inteligência Editorial, de Feira de Santana. O título pode ser adquirido por meio da internet e na Livraria Cultura, do Salvador Shopping. "A gente não pode desistir nunca. Não podemos desistir dos nossos sonhos. É preciso ter fé em Deus e acreditar em nós mesmos. Às vezes a gente só planeja a nossa vida, mas é preciso fazer com que ela mude. Eu fui atrás", conclui. (G1)

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